segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Naturalmente...




 
onde tu repousas tuas mãos eu quero estar...
naturalmente

eu vou pousar as minhas. Um silêncio

espalhou-se pelo quarto e a tua luz o invadiu

névoa perfumada de ti...cobriste os móveis

com seu másculo odor.. hormônios intermináveis..

os objetos calaram-se diante de ti...

naturalmente

onde pousas as tuas mãos,

onde tu pousas mesmo que brevemente as belas mãos

torna-se íntima a percepção que se tem de cada hora

de cada amanhecer... cada exato momento

perto de ti, o entardecer é só um vasto campo que se abre

 um rumor de vozes que vagueiam pelo jardim..
um pássaro morto...
o céu se intimida
perto de ti..
a noite traz lobos...
a lua trouxe você...
às vezes escrever é ler...
ler é escrever – e eu sei isso –
assim tu ages nos delírios noturnos, nas delícias dos meus sonhos

encaixa-se perfeitamente em mim...como se duas metades se completassem
porque em cada sítio do meu corpo em que pousaste tuas mãos
fica algo dos teus escritos – eu vejo-o: NÍTIDO
sobre o mais frágil espelho dos sentidos, uma palavra que se lê
de trás para diante...deito e meus suspiros ecoam como uivos noturnos
mais uma vez invade-me com teu corpo caloroso, seus pelos macios...
saio em vôo pela janela...onde repousas tuas mãos faz-se um rio...
seu toque de prata e quietude mesmo nas minhas
que pousam as tuas foram antes procurar,
 na quietude procuro suas mãos, são exatas as tuas mãos,
extremamente necessárias, os dedos têm desenhos tão perfeitos
que me surpreendem.... onde pousares as tuas mãos
eu quero estar...
exatamente como a sombra cai na água,
o pão que é jogado no rio
um dia retorna em peixes...
assim é o meu amor por ti...
retorna em soluços...
 

 

 
 

                               DUALISMO BURKEANO Edmund Burke. Dublin, Irlanda. (1729-1797). Filósofo conservador/liberal. Discípulo d...