Ó miserabilidade humana… suas fronteiras dimensionais ultrapassaram os limites da razão...jaz na sua configuração medíocre ... seu indelével estigma está agora longe da ágora... fez do Seol sua morada... sua forma informe define sua ‘in’’ condição humana ...suas metásticas chagas proliferaram ... vendeu-se tal qual a bela meretriz... lambe os despojos ofertados a ti, agradece e sai... dez pragas foram imputadas a ti: o desamor atingiu-te letalmente..(KRC)
‘Sou apenas um
de vossos mais humildes monges,
fitando de
minha cela a vida lá fora
Das pessoas
mais distante que das coisas
...
Não me
julgueis presunçoso se digo:
Ninguém
realmente vive sua vida
As pessoas são
acidentes, vozes, fragmentos,
medos, banalidades,
muita alegria miúda,
já crianças,
envoltas em dissimulação,
quando
adultas, máscaras; como rostos – mudas
Penso muitas
vezes: deve haver tesouros
onde se
armazenam todas essas muitas vidas,
como armaduras
ou liteiras, berços
que nunca
portaram alguém francamente real,
vidas qual
roupas vazias que não se sustentam
de pé e,
despencando, agarram-se
às sólidas
paredes de pedra abobadada
E quando à
noite vagueio
fora de meu
jardim, imenso de tédio,
sei que os
caminhos todos se estendem
levam ao arsenal
de coisas não vividas.
Não há árvores
ali, como se a terra se guardasse
e como ao
redor da prisão ergue-se o muro,
sem janela
alguma, em seu sétuplo anel.
E seus portões
de trancas de ferro,
que repelem os
que querem passar,
têm suas
grades todas feitas por mãos humanas
R.M. Rilke, de Samtliche Werke, vol.I, Frankfurt/Main, 1962, p. 316-17