sábado, 25 de janeiro de 2014

Benevolência questionável ou mero assistencialismo ineficaz?

"E embora nenhuma utopia tenha desempenhado papel muito importante na história – pois, nas poucas vezes que os projetos utópicos foram concretizados, logo ruíram sob o peso da realidade, não tanto da realidade de circunstâncias externas, mas sobretudo das relações humanas reais que não conseguiram controlar – serviram como veículo mais eficazes para conservar e desenvolver uma tradição de pensamento político no qual o conceito da ação era, consciente ou inconscientemente, interpretação em termos de fabricação." (Hannah Arendt, in A condição humana, pg.240)

A única condição observada é a total degradação. O que há é uma nítida linha divisória entre o ‘real’ proposto pela realidade e o surreal observado pelos olhos. Ó maldita ciência de perfumaria! Sua teoria de gabinete cheira mal. E quanto aos seus intelectuais? Lotados em salas com ar condicionado, padecendo agora de dislexia moral e completa alienação da atual condição humana. Arrotam o tempo todo as teorias dos clássicos aristocratas que viveram no medievo, alías, tempo que muito se assemelha com o nosso quando o assunto é liberdade humana. (Grande Iluminatis, onde andas tu? ) Talvez a única luz, brilha agora nos templos hedonistas dos heróis criadores e benfazejos do assistencialismo salvador . Nossos pensadores não produzem, repetem. São criativos, claro, inventam discursos platônicos e tentam adaptá-los à nossa pré convulsão social. O palco é Davos? Não sei. Talvez lá se concentre o grande sede circense (afinal, alguém precisa pensar na salvação da humanidade). Eu penso que o palco seja aqui, na terrinha dos intelectualóides que parecem saber de tudo.Grandes oráculos contemporâneos. Sapientes perdidos na sua completa ignorância social, estimulados pela dolce vita conferida por seus honoráveis títulos, embriagados pela vaidade acrescida pela rasteira sociedade acadêmica. Imitados por seus discípulos acéfalos. Conduzidos por uma massa manobrável. Vivendo estão em um mundo à parte. Em uma dimensão paradisíaca somente comparada ao Eden. Estruturas de poder os legitimam. Suas idéias e decisões políticas ‘salvam’ a plebe dos tempos escatológicos. Seus debates levam a lugar nenhum. Suas teses defendem nada e coisa alguma. Poluem mentes indolentes com palavreados científicos sem sentido algum quando analisados meticulosamente. Os discursos agradam e são carruagens de fogo que os conduzem aos céus do poder. Lá permanecem como deuses. São louvados como tais. Enchem suas insólitas e vazias almas com a supremacia do status social. Este último conferido e delegado por aqueles que são suas pernas, a coluna dorsal que os sustentam no poder. O motivo único de ocuparem o lugar onde estão. Assim permanecem. Desarticulados da realidade, mostram cada vez mais sua incompetência quando é necessário que o público sobrepuje o privado. Ó malditos reclames desse conto 10.836/2004!! Adestramento populacional para aceite da submissão intercambiada por valorosos 70,00 'per capita'. O aceite desse infortúnio travestido de 'inclusão social', atrela os indivíduos à subserviência moral e material. Ei-los agora escravos do sistema dominante! Carta de legitimação que perpetua a in-dignidade e consolida por mais 300 anos a atual aristocracia no poder. A miséria material sustenta um poder desprovido de caráter ético-moral. A ruína espiritual é responsável pela atual condição ‘in’ humana. As bases estruturais do poder são mantidas pelas potentes pernas do 'homo faber. A queda da terrível cabeça da Medusa é o cessar envio de recursos que mantêm vivo um sistema carcomido pela corrupção e pelo jogo de interesses. Os 85 detentores de 46% das riquezas do planeta monopolizam o psiquismo coletivo social. Ditam todo o processo histórico econômico da contemporaneidade. Diagnóstico sociológico: a grande prole está fadada a suster todo o aparato governamental e seus desmandos. Por que   alguém diria: 'se há esperança, ela está nos proles: 'Benevolência questionável ou mero assistencialismo ineficaz?

sábado, 11 de janeiro de 2014

Norbert Elias e o processo ‘in’- civilizador



Após alguns tempos de turbulência, devido aos temas que antipatizaram meus leitores (desde já faço mea culpa) ,  este blog retoma o objetivo para o qual ele foi criado: analisar e sociologizar temas de interesse da minha pesquisa na pós graduação e mestrado. As discussões abordadas aqui poderão não agradar os leitores que refutam temas que dizem respeito aos que estão fora do Establishment, aqueles que foram postos na periferia da existência, quer por se comportarem deliberadamente como Outsiders, quer por participarem de um processo histórico (des) civilizador. Temas não agradáveis farão parte desse espaço, afinal, nada mais enoja do que relatar a exclusão, a pobreza, sexualidades desviantes, anomalias de caráter moral daqueles que hoje vivem no 'nem tão Admirável Mundo Novo.' As análises serão feitas baseando-me em caderno de campo  escrito durante minhas visitas nas aldeias indígenas, 'digníssimos' Projetos Sociais, comunidades de assentamentos, favelas e toda espécie de 'proles' que não fazem parte do plano do Grande Irmão. Homenagem aos célebres colaboradores dessa pesquisa : Hannah Arendt e Norbert Elias.

'Se nos conscientizarmos plenamente da peculiaridade da situação em que o padrão de 'racionalidade'- para usar o termo mais corriqueiro- é relativamente elevado na reflexão sobre os eventos naturais e relativamente baixo na consideração dos fenômenos sociais humanos ao nos desvencilharmos da cômoda ideia de que essa diferença se fundamenta na natureza do material, na peculiaridade dos dois campos de estudo. É comum nos contentarmos em afirmar que é relativamente fácil investigar os fenômenos naturais com frieza e calma, com elevado grau de autodisciplina, porque, evidentemente, não há sentimentos humanos implicados.  Com demasiada facilidade, esquecemos que só numa fase relativamente tardia de sua longa história é que os seres humanos ficaram em condição  de pensar 'racionalmente' sobre os fenômenos naturais sem que seus sentimentos, seu terror e seus desejos  fossem diretamente implicados em seus conceitos. " in Norbert Elias, Involvement and Detachment, Oxford, 1987 p.6-9 e 50-73

A frieza e o total desvínculo de sentimentos humanos fazem parte de uma análise desprovida de paixões e sentimentalismos que contaminam a pesquisa, por conseguinte, aproximada da realidade,  piedade ou qualquer forma de misericórdia polarizam a pesquisa para os sujeitos que estão do lado mais fraco da corda bamba da existência. Humanos não carecem desses quesitos para serem analisados como indivíduos tal qual o faz o exército da salvação assistencialista do poder dominante. Pela fraqueza de espírito, produto de anos de dominação e alienação da realidade social e transformados em fantoches para a manutenção de uma estrutura fustigante que oprime, andam agora ao bel prazer de políticas paternalistas que, com a distribuição de migalhas de dignidade, conseguem perpetuar a tão poderosa casta brahmin no poder.






                               DUALISMO BURKEANO Edmund Burke. Dublin, Irlanda. (1729-1797). Filósofo conservador/liberal. Discípulo d...